terça-feira, 24 de julho de 2012

Madressilva



Madressilva tinha a mania de falar sozinha. Era uma das coisas favoritas para fazer no tempo livre. No ônibus, caminhando na rua, no seu quarto, no intervalo do trabalho, somente durante o trabalho não pudia fazê-lo para não se desconcentrar, porém soltando uma ou outra exclamação sonora.
Adorava conversar com outras pessoas também. Mas a conversa consigo mesma não a enfadava, afinal, ela conhecia bem seus gostos, seus conhecimentos, poderia argumentar com deduções a respeito de qualquer coisa porque ninguém lhe exigiria argumentos sólidos, não precisaria mudar de assunto mesmo quando não quisesse, não era obrigada a falar coisas para agradar aos outros, porque estava simplesmente conversando consigo mesma.
Porém quando andava na rua falando sozinha, as pessoas ficavam-na observando, julgando-a: “Louca!” “Sai de perto dela filho, senão ela vai te roubar!” “Se interna, filha da puta!”
Procurou médicos e psicólogos. Porém nenhum conseguia a curar da sedução que era conversar consigo mesma. Não havia dia que ela não trocasse meia dúzia de palavras com seu “eu interior”.
Quando já havia perdido as esperanças, quando já havia dado entrada para se internar numa clínica psiquiátrica, ela passou na rua e viu uma senhora falando alto e gesticulando muito. O mais engraçado é que as pessoas passavam por ela e ninguém falava nada. Chegou perto e percebeu que a senhora segurava na mão um celular, e neste momento teve a bela ideia de ligar para si mesma toda vez que quisesse falar sozinha e fazendo isso, ninguém mais a observou estranhamente e nem a chamou de louca.
Segurando um celular na mão, ela curou sua loucura.