Madressilva tinha a mania de falar sozinha. Era uma das
coisas favoritas para fazer no tempo livre. No ônibus, caminhando na rua, no
seu quarto, no intervalo do trabalho, somente durante o trabalho não pudia
fazê-lo para não se desconcentrar, porém soltando uma ou outra exclamação
sonora.
Adorava conversar com outras pessoas também. Mas a conversa
consigo mesma não a enfadava, afinal, ela conhecia bem seus gostos, seus
conhecimentos, poderia argumentar com deduções a respeito de qualquer coisa
porque ninguém lhe exigiria argumentos sólidos, não precisaria mudar de assunto
mesmo quando não quisesse, não era obrigada a falar coisas para agradar aos
outros, porque estava simplesmente conversando consigo mesma.
Porém quando andava na rua falando sozinha, as pessoas
ficavam-na observando, julgando-a: “Louca!” “Sai de perto dela filho, senão ela
vai te roubar!” “Se interna, filha da puta!”
Procurou médicos e psicólogos. Porém nenhum conseguia a
curar da sedução que era conversar consigo mesma. Não havia dia que ela não
trocasse meia dúzia de palavras com seu “eu interior”.
Quando já havia perdido as esperanças, quando já havia dado
entrada para se internar numa clínica psiquiátrica, ela passou na rua e viu uma
senhora falando alto e gesticulando muito. O mais engraçado é que as pessoas
passavam por ela e ninguém falava nada. Chegou perto e percebeu que a senhora
segurava na mão um celular, e neste momento teve a bela ideia de ligar para si
mesma toda vez que quisesse falar sozinha e fazendo isso, ninguém mais a
observou estranhamente e nem a chamou de louca.
Segurando um celular na mão, ela curou sua loucura.
Consumo: pagando bem, que loucura tem?
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